Quem nós ainda não somos

Publicado: 04/02/2013 em Espiritualidade, Teologia

O autor cristão C. S. Lewis afirma: “O cristão não é uma pessoa que jamais erra, e sim, alguém capacitado a se arrepender, reerguer-se e começar de novo depois de cada queda”.

A Bíblia apresenta o mesmo ensino.

Sobre o pecado na vida do cristão, João diz: “Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. […] Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1 João 1:8, 10).

Quanto ao arrependimento, o mesmo autor declara: “Meus filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 João 2:1).

Como entender a relação entre pecado e santidade na vida do cristão?

“Quando estivermos revestidos com a justiça de Cristo, não teremos prazer no pecado, pois Cristo estará atuando em nós. Poderemos cometer erros, mas odiaremos o pecado que causou os sofrimentos do Filho de Deus” (Review and Herald, 18 de março de 1890).

“Muitas vezes, teremos que nos prostrar e chorar aos pés de Jesus por causa de nossas faltas e erros, mas não devemos desanimar. Mesmo se formos vencidos pelo inimigo, não seremos rejeitados nem abandonados por Deus. Não. Cristo está à direita de Deus, intercedendo por nós. Diz o apóstolo João: ‘Escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo’ (1Jo 2:1). E não nos esqueçamos das palavras de Cristo: ‘O próprio Pai os ama’ (João 16:27)” (Caminho a Cristo, p. 64).

“Se alguém que diariamente tem comunhão com Deus se desvia do caminho, se deixa de olhar firmemente para Jesus por um momento, não é porque peque deliberadamente; pois quando percebe seu erro, volta de novo, apressa-se a olhar para Jesus, e o fato de ter caído não o faz menos querido ao coração de Deus” (Review and Herald, 12 de maio de 1896).

E talvez este seja o ápice dos textos de Ellen White sobre a imperfeição da nossa maior e mais sincera obediência: “Os cultos, as orações, o louvor, a arrependida confissão do pecado, sobem dos fiéis como incenso ao santuário celestial, mas passando através dos corruptos canais da humanidade, ficam tão maculados [a obediência fica maculada?!] que, a menos que sejam purificados por sangue, jamais podem ter valor perante Deus. Não sobem em imaculada pureza, e a menos que o Intercessor, que está à direita de Deus, apresente e purifique tudo por Sua justiça, não será aceitável a Deus. Todo o incenso dos tabernáculos terrestres precisa ser umedecido com as purificadoras gotas do sangue de Cristo. Ele segura perante o Pai o incensário de Seus próprios méritos, nos quais não há mancha de corrupção terrestre. Nesse incensário Ele reúne as orações, o louvor e as confissões de Seu povo, juntando-lhes Sua própria justiça imaculada. Então, perfumado com os méritos da propiciação [o sacrifício] de Cristo, o incenso ascende perante Deus completa e inteiramente aceitável. Voltam então graciosas respostas. Tomara que todos vissem quanto a obediência, arrependimento, louvor e ações de graças, tudo precisa ser colocado sobre o ardente fogo da justiça de Cristo! A fragrância dessa justiça sobe como nuvem em torno do propiciatório” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 344).

“Enquanto durar a vida não haverá ocasião de repouso, nenhum ponto a que possamos atingir e dizer: ‘Alcancei tudo completamente’. A santificação é o resultado de uma obediência que dura a vida toda. […] Quanto mais nos aproximarmos de Jesus, e quanto mais claramente distinguirmos a pureza de Seu caráter, tanto mais claro veremos a excessiva malignidade do pecado, e tanto menos nutriremos o desejo de nos exaltar. […] A cada passo para frente em nossa experiência cristã, nosso arrependimento se aprofundará. Saberemos que nossa suficiência está em Cristo unicamente, e faremos nossa a confissão do apóstolo: ‘Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum’ (Romanos 7:18)” (Atos dos Apóstolos, p. 314).

Se você está vivo, então ainda não chegou à perfeição comportamental, não está sem pecado como atos. Se ainda está vivo, ainda existe um longo caminho. E, nele, não vamos nos arrependendo cada vez menos, mas cada vez mais: “nosso arrependimento se aprofundará”!

“Ninguém que pretenda ser santo é realmente santo. […] Quanto mais se aproximam de Cristo, mais lamentam suas imperfeições em comparação com Ele, pois sua consciência se torna mais sensível, e percebem melhor o pecado, assim como Deus o percebe” (Reavivamento Verdadeiro, p. 49). Quanto mais eu vejo quão grandioso, quão perfeito, quão magnífico é Cristo, mais eu vejo que em mim não há nada de bom e que mesmo minha mais profunda e sincera obediência está longe da perfeição de Cristo. Diante disso, como poderei pensar que sou melhor do que o pior pecador?

Esse é um lado da vida cristã; nós pecamos, mas odiamos o pecado e nos arrependemos.

Mas há outro lado.

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